quarta-feira, 18 de novembro de 2009

não tivesse mexido com ela

sempre andava na dela. queria papo. mas cordialmente desprezava.
dona de si. não tinha coração. no lugar um álbum de coleções. sensações apenas.
parecia ter 16 anos. inocente, dócil e bela. esperta e dissimulada eram qualidades.
com o tempo o coração amoleceu. alugou o apartamento por uns tempos. para um aqui e outro ali. e embora já pensasse em vender, teria ainda que fazer algumas reformas.
reformou e depois perdeu a vontade de vender.
foi atrás de seus sonhos. tornou-se proprietária também deles. aos poucos foi deixando de lado seu coração. parecia melhor assim. sem pensar nele. e focada apenas no inconsciente.
mas seu antigo ap., mesmo com a reforma, já se desfazia. e quando pensou em reformá-lo, um interessado o levou do jeito que estava - tendo uma porta solta encostada em uma das paredes de tinta toda descascada. só o chão estava inteiro, de madeira bonita e brilhante. pagou uma quantia boa. maluco era o cara. disse que ela podia ir morando no apartamento que ele não ia se mudar ainda. então ela, sem tem que pagar aluguel resolveu ficar. com o tempo o maluco mudou-se para lá, em 1 dos 2 quartos que haviam, e assim passaram a viver juntos.
arquiteto. tinha vários projetos em andamento e começou a transformar o lar. idêntico a sua personalidade. maluca e sistematicamente perdido. quando deu por si, os projetos começaram a tomar conta dela, à tornarem seus, e ela a financiá-los. e o ap sempre dele. e ela plenamente conformada à situação; armários modulados, pranchetas e papéis em todos lugares. sem falar dos cubos. ela o cara, e os projetos. quase ficou maluca. o piso perdeu a interinidade e o brilho. passou quase 3 anos nessa situação. até o dia em que o cara desapareceu por 48 horas.
estava na holanda. do nada, recebeu uma proposta muita lucrativa e havia, sem pensar 2 vezes, se mandado. disse a ela que podia ficar com o ap., desde que ela deixasse ele se hospedar lá, sempre que voltasse.
enlouqueceu.
os projetos ainda estavam presentes em sua vida. e não mas a via sem eles. tentou por conta, tomá-los para si. mas como havia se bagunçado entre projetos, papeis, compra e venda de apartamento que não o seu, esqueceu de seus sonhos e assim de seu vital. os papéis perderam vida. e com o tempo molharam-se. desmanchando rabiscos e composições.
se perdeu.
diferente da garota dos 16. perdeu seu mandado. voltou para o que tinha de mais valioso. seu coração. não conseguia manter a casa com a própria maluquisse. e daí chamou um arquiteto. que limpou toda a bagunça, pois toda a casa em ordem e a tirou do estado de abandono.
ela se via em perfeitas condições.
porém, sem a bagunça que fazia parte da sua vida, sem seus sonhos, e dividindo um apartamento que não era o seu.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

saudosos roqueiros

e vai se achando. distante do amor que sonhava.
terminou com ela e não deu desculpas. e nem as pediu. disse que todos tinham as suas e que no fim não adiantavam em nada. falou de um jeito que parecia orgulho, mas não deixava de ter razão. estava disposto a não disperdiçar sua mocidade.
no lugar do coração, sua virtude. que ganhava propoções maiores. manteve-se focado nela. única, a quem ele frequentemente recorria. foi o que me disse da última vez que nos vimos.
pensei que não sabia mais como ter o convívio com ela. mas a verdade é que não estava disposto a dividir-se com mais ninguém. seguiu tendo um caso aqui, outro ali. contudo passando-se os anos, continuava sozinho.
há alguns dias me encontrei com ele. os anos se passavam e continuava com boa aparência. fomos há um bar conhecido. onde nas maioria das vezes iniciavam nossas farras. o lugar falava por si só. quantas histórias em cada uma das mesas.
ele estava meio estranho. mas falou normalmente de seus projetos, da idade e de uma mulher, a mais recente que havia conhecido numa viajem que havia feito pra fora do país. ficou apaixonado por ela. por um momento pareceu até que seria feliz com ela. mas não. ele matinha-se fiel a sua virtude. no fim me disse que estava feliz do jeito que estava. disse a ele sobre o meu casamento e o que acontecia em um. me disse que se um dia eu tivesse um filho, que nunca abandonasse o meu casamento. e disse também que as escapadas são necessárias para mantê-lo. têm 40 anos e está ai na vida, pensei. mas logo percebi que não. uma amiga em comum que não via a anos passou para pegálo. nos despedimos e sabe do quê mais!? senti saudade da época em que éramos do rock. foi pura impressão achar que ele não estava bem.